terça-feira, 11 de outubro de 2011

ARTIGO - MARIA ARLETE

ALFABETIZAÇÃO – UM DESAFIO

Maria Arlete Von Borowski Neubauer

RESUMO

Este texto apresenta considerações sobre a alfabetização no Ensino Regular. Uma reflexão sobre o ato de ensinar e o ato de aprender e suas implicações.

Palavras-chave: Alfabetização. Ato de alfabetizar. Alfabetizador. Letramento.

INTRODUÇÃO
Ao falar de alfabetização temos que ter em mente que é um processo contínuo, apresentando complexidade ao aluno e no qual o professor será um facilitador deste processo. Alfabetização é antes de tudo um desafio para ambos, isto porque a criança precisa entender o que o professor está expondo e o professor tem que buscar novas alternativas caso não se tenha feito entender, é aí que ele mostra outros caminhos para que o aluno chegue ao ponto desejado.

ALFABETIZAÇÃO – UM DESAFIO
A alfabetização é um processo tão complexo para o aluno quanto para o professor alfabetizador, tendo em vista que o professor precisa se fazer entender e para o aluno quando tem que aprender coisas novas e associar com aquilo que já conhece, com o que traz como bagagem para a escola.
Essa bagagem que o aluno traz, o local onde vive, o entorno da escola devem estar sempre presentes no planejamento do professor. Todos querem ter êxito na sua tarefa (alunos-professor), mas nem sempre isso é possível. Observamos o quanto este tema preocupa educadores, pesquisadores. Aliado a tudo isso temos as dificuldades de aprendizagem do próprio aluno, ele pode ter problemas psicológicos, neurológicos e que só durante o processo é que o professor vai se dando conta disso.
Outro ponto a destacar, que pode ser um entrave no processo de alfabetização, é o despreparo do professor para tal tarefa.
Temos ainda nas escolas, professores que concluíram seus estudos há muito tempo e que não estão abertos a serem questionados quanto ao método utilizado. Outros que estão saindo das universidades e que ainda têm muitas dúvidas em qual caminho seguir. Estes últimos, são menos preocupantes pois a experiência, o tempo, lhe mostrará o melhor caminho.
Nosso maior problema é com quem não aceita sugestões ou ainda não tem o mesmo acesso à informação que os demais. Ainda temos locais distantes e onde toda essa informação leva muito tempo para chegar.
Em qualquer destes casos o aluno pode ser prejudicado. Ele busca alguém que o ajude e esse que deveria ser o facilitador não está apto para tal.
Sabemos que é nos primeiros anos que se inicia o desenvolvimento da autonomia reflexiva da criança, por isso, a construção da criticidade. Acredito ser de suma importância a forma de o professor ensinar, evidenciando necessidades, limites, possibilidades, sempre respeitando as diferenças.
O educador precisa agir frente às necessidades apresentadas, não que ele solucionará todos os problemas dos alunos e da escola, mas se tomar a iniciativa de trabalhar com os alunos, com os outros professores e com a comunidade escolar, poderá modificar ou melhorar alguma situação pela qual a escola e o aluno passam, com certeza estará realizando o segundo passo da reflexão crítica, que é a ação. O ato pedagógico necessita de reavaliação constantemente, pois as modificações cotidianas da sociedade solicitam essa revisão.
O processo de alfabetização e letramento exige da escola, do professor, do educando e de sua família, um trabalho em conjunto. Tudo começa pelo estudo do entorno da escola. Sabendo-se onde a escola está localizada e inserida, pode-se ter um ponto de partida. A partir daí, buscamos tudo aquilo que meu aluno traz, suas experiências e o mais importante, suas condições cognitivas. Sabermos e considerarmos o que eles conhecem sobre a língua escrita vai fazer toda diferença para o processo.
Antes de se pensar uma nova aprendizagem para o educando, sente-se que este aluno deve ser investigado através da entrevista. A entrevista é uma opção para que ele possa ser mais bem conhecido pelo professor e demais membros da escola. Assim, poderemos descobrir conhecer o que ele traz, quais são suas experiências, suas vivências. Essa entrevista é feita com os pais ou responsáveis onde colocam como a criança é, suas limitações, problemas de saúde, se tem acesso à leitura, quais os meios de comunicação disponíveis, entre outros.
Nessa hora a família revela os conhecimentos informais sobre sua realidade. Com o passar do tempo e sua convivência na escola, nosso aluno passa a ter uma relação cognitiva com o mundo, pois somado ao que já sabia antes de vir, sua bagagem cultural, com o que aprendeu na escola passa a entender, a interagir com esse novo mundo que está descobrindo.
Essas informações poderão ser utilizadas pelos professores das séries seguintes. Nas demais turmas o período de sondagem é feito para conhecê-lo melhor. Estas entrevistas com a família dos alunos do primeiro ano, pela sua importância, deveriam ser feitas a cada ano pelos professores das demais turmas. Isso só aproximaria os pais da escola e nós teríamos um embasamento para melhor trabalhar.
O que não podemos esquecer é que o aluno é o centro do nosso trabalho docente, nosso aluno deve ser visto como um todo, com tudo que ele traz para que melhor possamos facilitar a sua aprendizagem.
Reportando-nos ao trabalho de Paulo Freire vimos que foi muito além de um método de alfabetização. A descrição que se usa para um método seria uma maneira simplista de falar se comparado à maneira de Paulo Freire pensar e trabalhar a alfabetização.
A concepção que ele tinha é que o alfabetizando deveria ser encarado como alguém que faz parte de um contexto social e que quando alfabetizado estivesse em condições de agir de forma crítica, interagir, como um homem consciente de sua realidade e que pudesse transformar a sua realidade, se assim o desejasse.
Ensino Fundamental de 9 anos
Hoje, quando o aluno entra para a escola pública ele começa sua alfabetização mais cedo. Com 6 anos ele já faz contato com letras, números e uma diversidade de materiais que o auxiliarão na alfabetização. Esse material fica à disposição do aluno e do professor, mas tudo vai ser determinado pelo próprio aluno, o seu desejo de aprender. Alguns alunos em um mês já conseguem ler algumas palavras, outros levarão três a quatro meses para realizar a mesma tarefa. O que temos é que proporcionar sempre ambientes facilitadores para a aprendizagem.
Neste primeiro ano na escola o aluno vai se encaminhando para a alfabetização, através do letramento. Neste ano ninguém fica retido nessa série, mesmo que não tenha atingido os objetivos desse ano. A alfabetização, propriamente dita, acontecerá no segundo ano. Somente neste segundo ano é que o aluno é avaliado para verificar se atingiu os objetivos, se realmente está alfabetizado. A alfabetização leva em conta dois anos de aprendizagem.
Neste período entre o primeiro ano (série inicial) e o segundo ano, o aluno é promovido automaticamente. Somente no final do segundo ano é que existe a avaliação para saber se tem condições de ir para a série seguinte. Durante estes dois anos o aluno é avaliado pelos professores através da execução de trabalhos e da observação direta do professor.
Antes de adotarmos na Escola o Ensino Fundamental de 9 anos, os alunos passavam pela pré-escola e depois faziam a 1ª série. A pré-escola não era exigida como requisito para freqüentar a 1ª série, daí encontrarmos alunos que muitas vezes não sabiam nem recortar, pegar o lápis, pintar, por exemplo.
Na pré-escola o professor trabalhava apenas atividades que envolvessem a coordenação motora (fina e ampla), atividades recreativas e conteúdos envolvendo hábitos, atitudes, números até 10, as vogais, apenas algumas letras.
Quando foi adotado o novo sistema, o 1º ano teve sua tarefa ampliada, além das atividades anteriores, iniciou-se o trabalho de letramento, para alfabetização. Houve preocupação em antecipar conteúdos, aprendizagens que seriam trabalhadas somente na 1ª série.
Assim a criança tem dois anos para se apropriar do processo de leitura e escrita, o que só acontecia somente na 1ª série, dando condições aos alunos que tivessem mais dificuldade de conseguir acompanhar o processo.
O Governo do Estado do RS realiza parceria com institutos que subsidiam todo o processo. A cada trimestre estes alunos prestam provas, enviadas por estes institutos, para avaliar seu desempenho. Ainda os alunos prestam provas do MEC ( Provinha Brasil) e da SEC (Prova do SAERS).
Desafios do alfabetizador
A maioria dos professores foge da alfabetização porque são duas séries onde o aluno exige muito do professor. Muitas vezes, a cada letra nova há necessidade de, inclusive, pegar na mão do aluno para ensinar o traçado da letra. Nas demais séries o aluno está mais independente. Já entendeu como funciona o mecanismo da aprendizagem.
Conversando com minha professora parceira, dá para entender o que acontece hoje. Ela trabalha com duas séries: 1º ano e 3º ano. No 1º ano ela lança as letras, as famílias silábicas, pequenas frases e no 3º ano recebe alunos bem melhores preparados do que no sistema anterior. Mesmo tendo a mesma idade de alunos da antiga 2ª série, eles parecem mais maduros e permitem seguir mais rápido no conteúdo. Essa é a primeira turma de 3º ano da Escola
O processo de alfabetização é um processo contínuo. Estamos sempre nos alfabetizando à medida que um novo tipo de texto surge, a cada dia nos deparamos com placas, propagandas, charges, histórias em quadrinhos, e novidades vindas da Internet. O aluno tem que entender que não só de palavras se faz a comunicação. Para se conseguir alfabetizar, os alunos precisam estar em contato constante com estas diversas oportunidades de leitura.
A criança que observa seus pais lendo, manuseando livros, revistas, fazendo anotações, certamente terá mais facilidade que outros que não tiveram esta sorte, a mesma oportunidade. Um ambiente letrado pode servir de estímulo para novas leituras.
Para que meu aluno obtenha êxito na escrita e leitura, devo proporcionar a ele um ambiente favorável. Textos espalhados pela sala, textos escritos pelo professor e ditados pelo aluno, cartazes farão com que as crianças, aos poucos, tomem contato com esse novo mundo para ela.
Muitas crianças chegam à escola com uma noção muito boa de escrita e leitura, outras chegam sem ter tido esta oportunidade. Cabe a escola proporcionar este ambiente para elas, respeitando o ritmo de cada uma.
A colega parceira explicou que estes alunos que não tinham noção de como escrever letras e números e o que eles representam, tiveram que ter, também, uma ajuda da família. Na sala de aula por maior que seja o empenho de ambas as partes, eles precisam de mais horas de acompanhamento. Numa turma de muitos alunos fica mais difícil pois os que já sabem querem conteúdos novos.
Segundo a Doutora em Psicologia, Telma Weisz, criadora do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores para o Ministério da Educação, a diferença entre alfabetização e letramento deve ser tratada com o termo cultura escrita, para evitar a dissociação da aquisição do sistema de práticas sociais de leitura e escrita. A criança deve fazer uso social da língua, que consiga se comunicar, se fazer entender através da fala e aprender o sistema da escrita ao mesmo tempo.
Podemos afirmar que a aquisição da leitura é não natural como a aquisição da fala e a capacidade motora de caminhar. As duas citações dependem de motivação para desenvolver. Quanto mais motivados, mais hábeis serão. Dependendo tudo da motivação com iniciação na família, o contato com livros, presenciando pais a manusear jornais, revistas, livros, fazendo leituras, presenteando com livros. Quanto mais lê, mais vocabulário tem para escrever e para desenvolver este processo, devemos incentivar a leitura como: sala de leitura, hora do conto, biblioteca, analisar gravuras.
Nesta turma de 1º ano observada no ano de 2009 vi o quanto os alunos têm oportunidade de ler e ter contato com os livros. Existe um período de hora do conto toda semana com a professora da Biblioteca. Além deste contato, o Projeto Ayrton Senna envia livros para serem trabalhados em sala de aula, onde é registrada a opinião de cada um sobre os livros lidos.
No processo de alfabetização não podemos esquecer-nos da cópia, ela é necessária para a familiarização com as letras, palavras e organização do texto. Escrever é muito mais, é criar. Na escrita a criança precisa ser ativa, pensar sobre o que está escrevendo, compreender o que está fazendo.
Cada indivíduo tem o seu tempo, as suas vivências e informações adquiridas ao longo do seu processo de aquisição de conhecimentos. As explicações de Emília Ferreiro e Piaget mostram que eles acreditam na aquisição do conhecimento, mas este sempre deve se apoiar no que o aluno sabe, traz consigo para assim construir junto com as novas vivências e na interação com o indivíduo o seu próprio conhecimento. Ninguém aprende sozinho, é necessário interação, mas cada etapa necessita de tempo e este deve ser respeitado sempre, mesmo assim cabe ao professor proporcionar atividades que estimulem o aluno a buscar. O planejamento e conhecimento de cada aluno facilitarão a aprendizagem.
Cócco (1996) diz que o processo de ensino-aprendizagem para alfabetização deve ser organizado de modo que a leitura e a escrita sejam desenvolvidas por intermédio de uma linguagem real, natural, significativa e vivenciada. Que os alunos partam do seu conhecimento, de coisas que tenham significado. Por exemplo, quando falamos de uma letra e associamos a um animal eles gostam de contar o que sabem ou que gostariam de aprender mais sobre aquele bichinho. As crianças têm uma relação muito estreita com os animais.
Observando o que acontece nas escolas públicas podemos dizer que não existe um método de alfabetização infalível. Devemos usar sim, mas não nos fixarmos num específico e sim ver as necessidades da turma e ir adaptando a realidade dos alunos. Acho interessante e de bom resultado o método do som da letra, bem como o uso da letra bastão e a progressiva introdução da letra cursiva. É necessário conhecer as metodologias e ver o que se adapta a realidade dos alunos. Método de alfabetização e metodologia docente não é sinônimo, mas fazem parte da mesma família. Método é o caminho pelo qual se atinge um objetivo, caminho para chegar a um fim. Processo ou técnica de ensino. Modo de proceder, maneira de agir. E metodologia é o estudo dos métodos.
O tempo para a alfabetização é muito relativo, não tem tempo definido. Depende desde o estímulo de casa, o ambiente onde a criança convive se tem acesso a leituras, o nível cultural e social da família, até a preparação em sala de aula e da sala de aula como um local favorecedor da aprendizagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ato de alfabetizar, a alfabetização vai muito além da escola. A criança já chega com conhecimentos do seu ambiente social e como tal apresenta uma leitura de mundo, muitas vezes diferente do que a escola conhece.
Como professor alfabetizador a preocupação deverá ser em criar um local favorável, desafiador, e oportunizar ao meu aluno um ambiente estimulador à leitura e escrita.
Muitas vezes todo esse caminho trilhado pelo professor e aluno não atinge os objetivos previstos. Cagliari (2008, p.7-14) mostra sua preocupação em relação ao assunto. Ele afirma que a influência de vários fatores interfere nesse processo. Acredita que o fracasso deve-se a incompetência técnica. Geralmente se atribui este fracasso ao aluno e/ou ao professor. O caso é mais complexo. As escolas de formação, órgãos educacionais, autores de livros didáticos devem ser avaliados também. Muitas vezes o fracasso do aluno é atribuído a ele e na verdade está faltando preparo ao professor, na escolha do material a ser trabalhado e até a política educacional adotada pelo seu governo.
Para que se obtenha sucesso também é importante um embasamento teórico que virá através do conhecimento de métodos de alfabetização e do estudo de teorias de educadores que fazem da alfabetização o foco de seu trabalho.
Os problemas que acontecem ao longo dos anos, nas séries mais avançadas, quando o aluno não consegue escrever corretamente, têm problemas de ortografia, e interpretação, pedem um trabalho que oportunize a ele sanar estas dificuldades.
Professores de todas as disciplinas e séries podem ajudar neste processo, não só os de Língua Portuguesa, por isso é importante que todos os professores conheçam a forma como os alunos aprendem para poder ajudá-los. Só assim teremos mais leitores, escritores e não apenas analfabetos funcionais.

Referências Bibliográficas
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e Lingüística. 10. Ed. 15ª reimp. São Paulo: Scipione, 2008, p.7-14
CÓCCO, Maria Fernandes; HAILER, Marco Antônio. Didática de alfabetização: decifrar o mundo: alfabetização e socioconstrutivismo. São Paulo: FTD, 1996, p. 19-20. (Conteúdo e metodologia).
FERREIRO, Emilia (1985). Reflexões sobre alfabetização. São Paulo, Cortez.
FREIRE, Paulo (1982). A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo. Cortez.
TEBEROSKY, Ana e CARDOSO, Beatriz (org.). Reflexões sobre o ensino da leitura e da escrita. Petrópolis, Vozes, 1994.
WEISZ, Telma. Diálogo entre ensino e aprendizagem. São Paulo, Ática, 2000.

Artigo publicado pela aluna Maria Arlete Von Borowski Neubauer - Pedagogia 1

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